sábado, 26 de setembro de 2009

Racismo, preconceito e identidade

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Racismo, preconceito e identidade


Geralmente quando se inicia uma discussão sobre racismo e preconceito, inevitavelmente somos levados a tomar posições no sentido emocional, que passa a ser quase incontrolável, devido ao quanto esta questão está relacionada com o povo brasileiro. O que não devemos fazer é tomar posições somente por esse âmbito, já que isso acaba emperrando a análise real dos fatos ocorridos, sendo que os fatos por si só, já nos dão toda a dimensão do quanto foi cruel a escravidão. Precisamos olhar o fator histórico que levou as pessoas a criarem esse preconceito racial, afinal de contas história é a ciência que estuda o Homem e sua ação no tempo e no espaço, simultaneamente à análise de processos e eventos ocorridos no passado. O que acontece hoje é reflexo do que ocorreu no passado, seja distante ou ainda bem recente. Em relação a escravidão o historiador Milton Meltzer escreveu “A História ilustrada da Escravidão”, onde afirma que ela surgiu ainda na pré-história, assim que o homem percebeu que a força podia subjugar o inimigo e dessa forma utilizá-lo como escravo, mas essa suposta inferioridade era somente física, já que era mínima a população de homens da Terra. De acordo com o aumento da população e consequentemente a distribuição dos indivíduos por todos os cantos da Terra, as pessoas foram se modificando Darwinianamente de acordo com o clima e questões geográficas de cada lugar, aí então começa a diferenciação das raças. Quando havia uma guerra e o aspecto físico dos rivais se diferenciava, o outro era reconhecido pela aparência e assim se deu essa diferenciação, mas não é tão simples assim, muitas questões envolvem o preconceito racial. O tráfico de seres humanos que aconteceu na África foi muito mais cruel do que podemos imaginar. Os escravos eram simplesmente arrancados de suas famílias, do seu chão, do seu povo. Eram amontoados em navios negreiros, dormiam sobre suas próprias fezes e quase não se alimentavam. Muitas vezes morriam de doenças, quando o alimento estava escasso, economicamente era mais viável jogar escravos ao mar para que o alimento fosse fornecido para alguns outros, estes são apenas dois relatos, mas existem muitos tão terríveis ou piores. A África também foi repartida entre os europeus na chamada Conferência de Berlin, onde a foi dividida como se fosse um bolo e cada país ficou com um pedaço, não respeitando o sistema tribal em que viviam, muitas tribos diferentes foram colocadas no mesmo espaço do mapa feito pelos invasores, causando conflitos entre essas tribos, sendo que alguns atravessaram o século, ou seja, muitos conflitos dos africanos entre si foram causados pelos europeus. Em relação ao que aconteceu no Brasil, isto é muito mais grave porque o Brasil foi o país que mais recebeu escravos africanos em todos os tempos, segundo os registros,foram 3.647.000 escravos, enquanto o segundo que foi o Haiti, traficou 864.000 africanos, essa diferença é muito grande em relação a qualquer outro lugar do mundo, o Brasil é o país onde se tem mais negros fora do continente africano, por isso que o tema do preconceito deve ser debatido com mais frequência e de maneira diferenciada. Num país onde a metade da população é negra, mas não consegue ingressar estes cinquenta por cento no campo de trabalho, na educação e no acesso a todos os bens que a outra metade tem acesso, é no mínimo muito estranho. O preconceito fecha todas as portas, não só aquelas que incluem todos os cidadãos no todo em que tem direito, mas também fecha aquela que possibilita reconhecer o valor da sua identidade. O tema da identidade é um dos assuntos mais debatidos na atualidade por pensadores e sociólogos, são muitos os conceitos propostos para se entender o indivíduo da chamada pós-modernidade, mas numa questão todos eles concordam entre si, que é a constante fragmentação das identidades. Estamos falando de grandes pensadores como Gilles Lipovetsky, Zygmunt Bauman, Anthony Giddens e outros, que são europeus, e que nós do chamado Terceiro Mundo, supomos que haja uma provável identificação homogênea na Europa, já que não existe uma pluralidade étnica como a que existe no Brasil. Se na Europa existe uma crise de identidade em relação ás questões sociais, imaginem em um país de tantas etnias como o Brasil. A identidade é um valor pessoal de extrema importância para o indivíduo, ela é diferente dos valores passados, mas representa uma porção importante para compreensão do ser no mundo. A identidade do negro brasileiro foi sendo colocada com o passar do tempo como algo que não tinha representatividade alguma pela sociedade escravagista, justamente para que se sentissem inferiores e este é o papel que o poder representa muitas vezes, diminuir o valor daquele que está em posição de desvantagem, para que ele se sinta menor ainda. Quando D. Pedro II chamou o seu amigo e famoso pensador racista Jean Arthur Gobineau para tratar de assuntos relacionados à raça brasileira, Gobineau disse: "Mas se, em vez de se reproduzir entre si, a população brasileira estivesse em condições de subdividir ainda mais os elementos daninhos de sua atual constituição étnica, fortalecendo-se através de alianças de mais valor com as raças européias, o movimento de destruição observado em suas fileiras se encerraria, dando lugar a uma ação contrária." D. Pedro II aceitou a proposta de Gobineau e começou a ceder terras gratuitamente a estrangeiros de raça branca para que aos poucos a raça fosse se branqueando. Para se ter idéia do poder nocivo de Jean Arthur Gobineau, o seu livro “A origens das raças” foi utilizado como uma das peças fundamentais para elaboração do pensamento do Partido Nacional Socialista Alemão, o Nazismo e o final dessa história todos conhecem. As cartas trocadas entre D. Pedro II e Gobineau, é outro material importante para desvedar o pensamento racista do imperador. Quando se trata de destruir a identidade do outro, o poder não poupa suas mais temíveis armas. Após a mentira da abolição da escravatura, os negros eram proibidos de transitar pelas ruas por vadiagem, não tinham trabalho e eram acusados de vadiagem, foram proibidos de manisfetar qualquer atitude reliogiosa, pois foi decretada como sendo algo demoníaco. Os filhos cresceram com a mentalidade de que realmente fossem uma raça inferior e isso mostra o por que de alguns negros não se aceitarem como tal, pois já está devidamente instalado na sociedade esse pensamento que foi meticulosamente calculado para destruir a importante constituição identitária do indivíduo. As coisas mudaram, mas não o suficiente para que o negro ocupe o lugar que tem direito na sociedade, ou seja, o equivalente da sua população em relação ao branco. A hipocrisia ainda ronda as relações sociais e as salas de entrevistas dos empregos, cargos oficiais raramentes tem negros, até o mercado editorial, que poderia trazer importantes livros para reflexão sobre o assunto, não dão a mínima, pois um autor como Cheikh Anta Diop, que é considerado o maior antropólogo do século vinte para assuntos referentes à África, nunca foi publicado no Brasil. Acho que já está na hora do homem reavaliar todas as suas atitudes em relação ao outro, seja qual for sua raça, pois se for um religioso e seguir a bíblia, lá está escrito “Amai-vos uns aos outros”, estas são palavras do representante máximo divino e se acredita na ciência, deve saber que o primeiro ser humano da Terra nasceu na África e se for um pouco mais longe, os cientistas descobriram que nossa galáxia surgiu da explosão de uma imensa estrela e que somos a poeira dessa estrela que era feita de setenta porcento de Hidrogênio, vinte e sete de carbono e os outros três por cento de outros materias, ou seja, nossa composição é a mesma desde muitos bilhões de anos antes de existirmos , que é a mesma dos animais, das pedras, das árvores, do vento...Temos todas as tecnologias para clonar outra vida, controlar aviões não tripulados no Afeganistão do solo americano; mandar um robô coletar amostras do solo de Marte. Então por que é tão difícil reconhecer-se igual a outro ser que tem somente a pele diferente?
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Ninil



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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

A Lei 10.639

A Lei 10.639 que foi aprovada em 2003 muda a nossa principal lei da educação, a LDB(Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), torna obrigatório o ensino da cultura e da história africana e afro-brasileira na educação infantil,no ensino fundamental e médio, público ou particular.Foi uma importante conquista por parte daqueles que lutaram e lutam por uma sociedade onde haja maior respeito às diferenças, valorização de um povo que com força, sabedoria e beleza construiu as bases do nosso país. Desta forma é possível acreditar que uma nova história comece a ser escrita, num espaço que é fundamental para preparar as pessoas para a vida, a escola. Há muito o que se fazer ainda, muitas barreiras à transpor, pois a escola também como toda a sociedade, concentra preconceitos.Muitas escolas ainda ignoram a Lei,mas ela está aí e tem que se fazer valer.